Inauguramos hoje a seção Por Aí. A cada segunda-feira iremos subir um ensaio fotográfico que conte uma bela história. 
Mongólia – O Ciclo Nômade
Fotógrafa e cineasta, Jessica Nolte é formada pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP). Desde 2010 trabalha na produtora Baboon Filmes onde produziu e fotografou mais de 10 documentários. Para este ensaio, Jessica passou mais de 30 dias na Mongólia registrando a vida dos nômades. Na Bolívia denunciou o trabalho escravo nas minas de prata de Potosí, trabalho finalista do Prêmio ESSO de jornalismo em 2012, que também recebeu duas menções honrosas, uma no prêmio de direitos humanos ANAMATRA e outra por sua fotografia ‘Silver Widows’ no Prêmio de Fotografia Latino Americano. Em Uganda revelou o sacrifício de crianças para rituais de magia negra e com este também foi finalista no Prêmio ESSO de jornalismo no mesmo ano. por Jessica Nolte Em 2011, em parceria com a Baboon Filmes, produtora de conteúdo para televisão, passei um mês documentando a vida dos Nômades na Mongólia, um dos últimos países do mundo onde a cultura nômade ainda prevalece. A vida pastoral que os nômades adotaram durante 3000 anos de história faz com que se movam por volta de 4 vezes ao ano em busca de melhores pastos para seus animais. Cerca de 50% da população mongol ainda vive nas estepes, mas as mudanças econômicas e sociais estão forçando muitos a deixar o seu modo de vida tradicional para migrar para as cidades com a ilusão de encontrar uma vida melhor. Saímos da “promissora” capital Ulan Bator rumo as estepes e cruzamos pastos que pareciam não ter fim… até, finalmente, avistar no horizonte algo que quebrava a simetria do infinito. Uma Gehr! A recepção foi inacreditável. A cultura nômade prega que quando um convidado bate a sua porta o melhor deve ser oferecido. E assim foi. A bajulação era tanta que nos sentiamos desconfortáveis. Dormimos nas melhores camas, comemos a melhor parte da comida e ainda só recebíamos sorrisos. Por dias acompanhamos a rotina dessa familia. As atividades diárias começavam cedo; tirar leite dos yaks, caçar, tocar o rebanho, lavar roupas no rio e cozinhar. Aliás, a culinária é um caso a parte. No café da manhã, carne de carneiro e leite de yak. No almoço, carne de carneiro e leite de yak. E no jantar, para não perder o costume, carne de carneiro e leite de yak. Durante a noite dançávamos sob o céu estrelado ao som de um radinho que horas tocava músicas tradicionais e horas me surpreendia com um eclético “The Doors”. E, claro, tudo regado a muita vodka artesanal feita do leite de égua. Essa rotina só foi quebrada quando recebemos a notícia de que um novo pasto deveria ser encontrado. Num piscar de olhos, a Gehr foi desmontada e carregada no lombo dos yaks. Após uma longa procura, chegamos ao novo “endereço” e a rotina, recomeçada.